domingo, 27 de outubro de 2013

Impactos da tutoria

Como já disse, faço tutoria em um projeto que associa Agricultura Urbana, Segurança Alimentar e Nutricional e Promoção da Saúde. Devo dizer que vi dois antigos hábitos associados com a alimentação se alterarem desde que comecei a participar do projeto:

- Deixei de deixar meus pais cuidarem totalmente da minha alimentação (até porque agora eu tenho uma renda pessoal pra fazer compras de acordo com minhas necessidades, hehe)
- Deixei de comprar meus alimentos exclusivamente em supermercados.

O último ítem é o mais importante. É decorrência de minhas andanças em Embu das Artes em Julho, no qual avaliei o ambiente alimentar do entorno de UBS e Escolas municipais que possuem hortas. E de supermercado em supermercado, sacolão em sacolão, bar em bar fui percebendo o quanto sacolões são impressionantes, tanto pela variedade de legumes e verduras e frutas que fornecem, como em relação ao preço que ofertam, que são sempre iguais ou inferiores aos de supermercados. 

Me dei conta que passei a vida inteira subestimando o poder destes estabelecimentos de promover Segurança Alimentar e Nutricional, e que inclusive eu poderia deixar de alegar falta de dinheiro para comprar meus alimentos e poderia me bancar através de compras em sacolões que não ficaria no vermelho. Já que eu gosto tanto de cozinhar e fazer novos pratos, nada mais me segura!


"I want it aaaaaaaaaaaaall ♪"


E foi o que tenho feito desde então. Não compro mais em supermercados (primeiro porque minha renda ainda é bem limitada e segundo porque aqui em São Bernardo existe um sacolão gigante equipado com todas as sessões que poderia necessitar, tem inclusive um setor de alimentos orientais divino ♥ posso fazer meio quilo de yakissoba com a carne, o molho e os legumes por R$ 8,00 ♥ ♥ ♥) e posso promover minha própria alimentação fora de casa. Posso optar por frutas sem me preocupar que elas serão de má qualidade e mais caras que uma bolacha, por exemplo. Só não passei a frequentar feiras, que também considero melhores que supermercados em termos de preço e variabilidade, por falta de tempo.



Um hábito tão saudável quanto prazeroso.
De brinde ainda ganho autonomia para decidir o
que comer.

Me surpreendi tanto com os sacolões que cheguei a mencionar na apresentação do meu seminário de Atividade Integradora, baseado numa visita à rede Mundo Verde que os preços dos produtos ofertados lá geram uma elitização da rede e uma segregação daqueles que possuem restrições alimentares, mas não podem pagar. Defendi que ambientes como os sacolões deveriam ter mais subsídios por seu potencial de garantir o Direito Humano à Alimentação Adequada e por atender à esta população com necessidade de produtos light/diet sem gastar muito. E por ser uma alternativa à todas as pessoas com menor poder aquisitivo, como esta universitária no começo de carreira e com uma larica sem fim =)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Extensões

Eu tive a oportunidade de ser contemplada com um projeto de extensão que chamam de Tutoria Científico-Acadêmica. Vinculei-me, no primeiro semestre, ainda sem ter muita ideia do que faria a um projeto de pesquisa: Agricultura urbana, promoção da saúde e segurança alimentar e nutricional no município de Embu das Artes, sob orientação da professora Claudia Bógus. 

[pergunta geral]: Nossa Verônica, você entrou num projeto pra ficar puxando enxada e plantando alface?
- Não, saco amiguinho.

Não é nada disso

Eu precisei de algumas reuniões e de uma série de leituras para me empoderar dignamente do assunto, mas muito do que começei a ver na tutoria me seria explicado com mais profundidade no segundo semestre, sobretudo nesta matéria (Atividade Integradora) e na própria disciplina ministrada pela Claudia.

Como que a Promoção da Saúde e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) dialogam com a agroecologia, então?

"Você também come com essa máscara na cara?"
O post anterior já no trás uma ideia do Agronegócio, grande aliado da economia deste país de proporções continentais, porém de situação ainda subdesenvolvida  (não, não sou adepta do termo "em desenvolvimento", sou feliz pelo vestibular já ter passado e eu não ser mais obrigada a dizer isso), aliado à praticas de aplicação de agrotóxicos e com a grande maioria da produção sendo voltada para a exportação (mas com os estragos sociais e ambientais muito bem fixados por aqui).

A agroecologia é "uma vertente agronômica
que engloba técnicas ecológicas de cultivo
com sustentabilidade social. Ela também
incorpora fontes alternativas de energia e
sua principal preocupação é “sistematizar
todos os esforços num modelo tecnológico
socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente sustentável”

Ora, a agroecologia tem tudo a ver com o Direito Humano à Alimentação Adequada, que tá garantido na Constituição desde 2010, pois é aplicada à agricultura familiar, a qual por sua vez é a grande fonte de alimentação das milhares bocas brasileiras. Reitero que agricultura familiar não adota a agroecologia obrigatoriamente, mas é nela que esta prática/movimento melhor se encaixa. Em março de 2011 a ONU divulgou o documento Agroecology and the right to food (Agroecologia e o Direito à Alimentação), um relatório de autoria de Olivier de Schutter, que coloca a agroecologia como condição indispensável para a garantia do direito básico e universal à alimentação, baseando-se em iniciativas que foram levadas a cabo em países da África e da América Latina e provaram ser altamente eficientes. Este documento, portanto traz dados concretos e de caráter científico com vistas a incentivar os governos a investirem mais em agroecologia e menos nas ditas "biotecnologias", que trazem transgênicos para as prateleiras, por exemplo. O relatório aponta que mesmo com o mínimo de condições favoráveis e poucos investimentos por parte do Estado, a agroecologia pode trazer resultados satisfatórios que dispensam qualquer método de exploração agrícola. 

Então, por que não investir em políticas públicas voltadas a isso, não?

Afinal, garantir o DHAA é uma forma poderosa de trazer Segurança Alimentar para as populações e a Segurança Alimentar, por sua vez, dialoga fortemente com os Princípios e Campos de Atuação da Promoção da Saúde.

A formulação de políticas públicas com este enfoque, portanto, é o objetivo do projeto. E foi só a medida que fui estudando a complexidade e a abrangência socioeconômica desta temática que fui compreendendo o valor de estar fazendo parte do grupo, embora de uma forma minoritária.

E o que afinal que eu faço lá?
Eu como "tutorada", junto das outras meninas, auxilio no desenvolvimento dos projetos de mestrado, iniciação científica, treinamento técnico e doutorado que são subprojetos do projeto maior, acima descrito. Entre as minhas atividades está participar das reuniões do grupo, ir para Embu das Artes coletar dados por meio de questionários de variados objetivos, entrevistar pessoas envolvidas com projetos agroecológicos, digitar questionários, fazer agendamentos, e também algumas vezes participo de discussões sobre pesquisas qualitativas x quantitativas, por exemplo.

Chego à conclusão que a atuação de um nutricionista pode extrapolar a atuação clínica de formas que jamais poderia imaginar, e gostaria que mais projetos deste caráter fossem desenvolvidos na faculdade, afinal, este ano apenas três tutoradas foram contempladas, mas quantos mais precisariam ter mais a visão prática que nós temos para absorver a importância do assunto? Imagino que justamente por isso as matérias de Atividade Integradora e Promoção da Saúde promovem visitas de campo (e são as únicas do semestre com tal iniciativa).


REFERÊNCIAS: 
Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional.
Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional: 2012/2015.
-- Brasília, DF: CAISAN, 2011.
132 p. ; 27 cm.

ISBN: 978-85-60700-47-9 disponível em http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/arquivos/LIVRO_PLANO_NACIONAL_CAISAN_FINAL.pdf

SCHUTTER, Olivier de. -  Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional.
Conselho de Direitos Humanos. Décima sexta sessão. Item 3 da agenda
Promoção e proteção de todos os direitos humanos, direitos civis,
políticos, econômicos, sociais e culturais, inclusive o direito ao desenvolvimento.
Relatório apresentado pelo Relator Especial sobre direito à
alimentação, Olivier de Schutter.-- Brasília, DF: MDS, 2012. p. ; cm.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A importância da compreensão da rotulagem nutricional

Geléias: Garantindo seu Diabetes num futuro próximo 
- e sem que você perceba.
O tema foi abordado por pelo menos três disciplinas diferentes, sob aspectos diferentes: Bromatologia, Produção e Composição de Alimentos e atividade integradora.
 Me dei conta do quanto é ridículo noções tão básicas sobre a composição da rotulagem dos alimentos e as regras que se impõem na listagem dos ingredientes ser desconhecida por quase todos - eu não fazia ideia de uma série de coisas, como por exemplo a ordem dos ingredientes ser definida em ordem decrescente de quantidade. Por conta desse desconhecimento grande parte das indústrias de alimentos se utilizam de estratégias para venderem um produto com alegações enganosas.

Acho absurdo a forma como a listagem dos ingredientes e do rótulo não seja obrigatória em todos os países, isso é uma questão de saúde pública. Como uma pessoa poderá cuidar efetivamente de sua saúde se não tem como conhecer aquilo que ela compra? 

É direito do consumidor ter uma série de informações explícitas na embalagem do produto, ao passo que tem se desenvolvido métodos analíticos cada vez mais eficientes para determinar a real composição nutricional do alimento e as estatísticas apontam que a maioria das pessoas de fato lê o rótulo. O problema nisso é que não o compreendem, então, de quem é a culpa por isso? Pessoas estão comprando barrinhas de cereais mas ingerem quantidades elevadas de açúcar enquanto acham que estão ingerindo sobretudo fibras.

Sabemos que o nutricionista tem um papel muito importante na orientação do paciente, sobretudo na elaboração de cardápios e dietas, mas eu não concordo que as pessoas dependam de uma consultoria para aprender a interpretar rótulos e se proteger de propagandas enganosas e abusivas, já que o governo não consegue a curto prazo elaborar e implantar políticas rigorosas sobre a rotulagem e informação nutricional. Ainda assim, as medidas que são tomadas são sempre favoráveis ao consumidor. A partir do ano que vem, por exemplo, por determinação da ANVISA os produtos com alegações de "não contém", "fonte de" e "rico em" precisarão cumprir exigências mais rigorosas para poderem ter o direito de usar tais alegações. A medida valerá para nutrientes como fibras, ômega 3, 6 e 9 e o sal. As empresas que não se adequarem serão multadas.

Medidas como essas são importantes, mas reitero sobre a importância de uma alfabetização da população a respeito do tema, afinal aquilo que se ingere afeta diretamente a saúde do consumidor a longo prazo, e é inadmissível que não se disponibilize as ferramentas necessárias para que ele possa conhecer de fato seu alimento. Sou da linha de que até mesmo os agrotóxicos usados no cultivo dos alimentos/ingredientes deveria ser especificado, já que os mesmos podem ser considerados como "aditivos acidentais", pelo que aprendi em Composição de Alimentos.

Bom, pelo menos eu fiquei sabendo de uma iniciativa por parte de nutricionistas de ampliar a discussão e o esclarecimento à população através de um site, deveras útil, o qual inclusive me ajuda a estudar pras provas sobre composição de alimentos. Ei-lo: http://fechandoziper.com/
E poderia até dizer que existem outras iniciativas como esta, as redes sociais também cumprem papel importante ao menos na denúncia de abusos, como por exemplo a página Fato Rápido, da qual tirei a imagem do início do texto. 


REFERÊNCIA
http://www.dgabc.com.br/Noticia/72750/rotulos-de-alimentos-possuem-novas-regras