quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Extensões

Eu tive a oportunidade de ser contemplada com um projeto de extensão que chamam de Tutoria Científico-Acadêmica. Vinculei-me, no primeiro semestre, ainda sem ter muita ideia do que faria a um projeto de pesquisa: Agricultura urbana, promoção da saúde e segurança alimentar e nutricional no município de Embu das Artes, sob orientação da professora Claudia Bógus. 

[pergunta geral]: Nossa Verônica, você entrou num projeto pra ficar puxando enxada e plantando alface?
- Não, saco amiguinho.

Não é nada disso

Eu precisei de algumas reuniões e de uma série de leituras para me empoderar dignamente do assunto, mas muito do que começei a ver na tutoria me seria explicado com mais profundidade no segundo semestre, sobretudo nesta matéria (Atividade Integradora) e na própria disciplina ministrada pela Claudia.

Como que a Promoção da Saúde e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) dialogam com a agroecologia, então?

"Você também come com essa máscara na cara?"
O post anterior já no trás uma ideia do Agronegócio, grande aliado da economia deste país de proporções continentais, porém de situação ainda subdesenvolvida  (não, não sou adepta do termo "em desenvolvimento", sou feliz pelo vestibular já ter passado e eu não ser mais obrigada a dizer isso), aliado à praticas de aplicação de agrotóxicos e com a grande maioria da produção sendo voltada para a exportação (mas com os estragos sociais e ambientais muito bem fixados por aqui).

A agroecologia é "uma vertente agronômica
que engloba técnicas ecológicas de cultivo
com sustentabilidade social. Ela também
incorpora fontes alternativas de energia e
sua principal preocupação é “sistematizar
todos os esforços num modelo tecnológico
socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente sustentável”

Ora, a agroecologia tem tudo a ver com o Direito Humano à Alimentação Adequada, que tá garantido na Constituição desde 2010, pois é aplicada à agricultura familiar, a qual por sua vez é a grande fonte de alimentação das milhares bocas brasileiras. Reitero que agricultura familiar não adota a agroecologia obrigatoriamente, mas é nela que esta prática/movimento melhor se encaixa. Em março de 2011 a ONU divulgou o documento Agroecology and the right to food (Agroecologia e o Direito à Alimentação), um relatório de autoria de Olivier de Schutter, que coloca a agroecologia como condição indispensável para a garantia do direito básico e universal à alimentação, baseando-se em iniciativas que foram levadas a cabo em países da África e da América Latina e provaram ser altamente eficientes. Este documento, portanto traz dados concretos e de caráter científico com vistas a incentivar os governos a investirem mais em agroecologia e menos nas ditas "biotecnologias", que trazem transgênicos para as prateleiras, por exemplo. O relatório aponta que mesmo com o mínimo de condições favoráveis e poucos investimentos por parte do Estado, a agroecologia pode trazer resultados satisfatórios que dispensam qualquer método de exploração agrícola. 

Então, por que não investir em políticas públicas voltadas a isso, não?

Afinal, garantir o DHAA é uma forma poderosa de trazer Segurança Alimentar para as populações e a Segurança Alimentar, por sua vez, dialoga fortemente com os Princípios e Campos de Atuação da Promoção da Saúde.

A formulação de políticas públicas com este enfoque, portanto, é o objetivo do projeto. E foi só a medida que fui estudando a complexidade e a abrangência socioeconômica desta temática que fui compreendendo o valor de estar fazendo parte do grupo, embora de uma forma minoritária.

E o que afinal que eu faço lá?
Eu como "tutorada", junto das outras meninas, auxilio no desenvolvimento dos projetos de mestrado, iniciação científica, treinamento técnico e doutorado que são subprojetos do projeto maior, acima descrito. Entre as minhas atividades está participar das reuniões do grupo, ir para Embu das Artes coletar dados por meio de questionários de variados objetivos, entrevistar pessoas envolvidas com projetos agroecológicos, digitar questionários, fazer agendamentos, e também algumas vezes participo de discussões sobre pesquisas qualitativas x quantitativas, por exemplo.

Chego à conclusão que a atuação de um nutricionista pode extrapolar a atuação clínica de formas que jamais poderia imaginar, e gostaria que mais projetos deste caráter fossem desenvolvidos na faculdade, afinal, este ano apenas três tutoradas foram contempladas, mas quantos mais precisariam ter mais a visão prática que nós temos para absorver a importância do assunto? Imagino que justamente por isso as matérias de Atividade Integradora e Promoção da Saúde promovem visitas de campo (e são as únicas do semestre com tal iniciativa).


REFERÊNCIAS: 
Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional.
Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional: 2012/2015.
-- Brasília, DF: CAISAN, 2011.
132 p. ; 27 cm.

ISBN: 978-85-60700-47-9 disponível em http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/arquivos/LIVRO_PLANO_NACIONAL_CAISAN_FINAL.pdf

SCHUTTER, Olivier de. -  Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional.
Conselho de Direitos Humanos. Décima sexta sessão. Item 3 da agenda
Promoção e proteção de todos os direitos humanos, direitos civis,
políticos, econômicos, sociais e culturais, inclusive o direito ao desenvolvimento.
Relatório apresentado pelo Relator Especial sobre direito à
alimentação, Olivier de Schutter.-- Brasília, DF: MDS, 2012. p. ; cm.

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