"O nutricionista clínico tem que ter um senso de motivação forte"
"O nutricionista é como um educador. Ele deve se empoderar da capacidade que tem para transmitir seu conhecimento de forma eficaz ao paciente;"
Quando eu penso que, não podendo mandar fazer exercícios, não podendo também prescrever medicações que facilitem o emagrecimento, concluo que a principal cartada que o nutricionista se utiliza com seu paciente numa clínica é a reeducação alimentar, então, de fato, o nutricionista precisa ter em algum momento de sua formação uma capacitação para que ele possa exercer tal qualidade, que, vejo, é indispensável.
Até o momento, a matéria que mais abordou esta demanda do nutricionista é a Promoção da Saúde, a qual com seus princípios e campos de atuação, visando a criação de condições favoráveis a saúde enquanto critica a visão e atuação medicalizada sobre os problemas de saúde.
O sociólogo Edgar Morin apontou que, para que possamos lidar com os problemas de complexidade crescente que nos circundam, temos que nos ater a uma cultura igualmente complexa que nos capacite a pensar em soluções com diversas dimensões, e é exatamente o que percebe-se quando pensa-se nas condições de saúde da população brasileira.
Os níveis de obesidade crescem junto com o poder aquisitivo, mesmo que na contramão também surjam cada vez mais iniciativas que visam o estabelecimento de hábitos saudáveis. Por que então ainda existe esta dualidade? O que está faltando para que se lide eficazmente com isso? Em um dos seminários que realizei neste semestre, falei sobre a forma como o enfoque da Segurança Alimentar e Nutricional é capaz de resgatar as multidimensões do alimento e fortalecer a Promoção da Saúde na elaboração de políticas públicas.
Ainda no começo do semestre, estudamos sobre as diferentes vertentes da pedagogia e delas, a que melhor se adequa ao trabalho do profissional da saúde é a chamada Pedagogia da Problematização.
Tal como nas escolas, é fundamental para o profissional da saúde levar em conta a realidade de seu paciente, conhecendo-a e partindo dessa compreensão crítica para elaborar medidas que tragam para a pessoa a consciência e a capacidade de mudar sua realidade.
Afinal de contas, nunca é só de quilos a mais/menos que as pessoas realmente buscam nos consultórios; embora não tenham consciência plena disso, elas demandam por um tratamento que mude seu pensamento sobre sua alimentação e sobre sua realidade, que as faça compreender da rotina dúbia que a mídia e os costumes lhes impõe: Aprenda a ser magro num ambiente obesogênico.
Que elas possam aprender e assimilar em parte por conta própria novos hábitos alimentares sem seguir roboticamente roteiros alimentares que nem sempre lhes fazem sentido. Que não precisem a vida toda de um nutricionista para lhes tratar e que a busca por uma promoção pessoal da saúde se torne um hábito. Considero o enfoque da promoção da saúde tão fundamental que faz muito sentido pra mim que a disciplina seja dada no primeiro ano, como "matéria básica". Não cabe ao nutricionista ficar correndo atrás de somente tratar doenças; a visão medicalizada não deve se aplicar mais nesta área.
Nascemos e morremos com uma mentalidade muito hipocondríaca, e não precisamos passar a vida toda à base de remédios, "tratando a consequência e não a causa", para termos ideia da insustentabilidade desta visão.
Se na formação o nutricionista pode aprender isso, ele também pode muito bem transmitir àqueles que trata.
REFERÊNCIAS
CORTELLA, Mário Sérgio. Educação como instrumento de mudança social. IN: VARGAS, HC; RIBEIRO, H. Novos instrumentos de gestão ambiental. São Paulo: EDUSP; 2001. p 43-54
COSTA, Christiane Araújo; BOGUS, Cláudia Maria. Significados e apropriações da noção de segurança alimentar e nutricional pelo segmento da sociedade civil do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Saude soc., São Paulo , v. 21, n. 1, Mar. 2012 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902012000100011&lng=en&nrm=iso>. access on 16 Nov. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902012000100011.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2003.
PEREIRA, Adriana Lenho de Figueiredo. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 19, n. 5, Oct. 2003 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2003000500031&lng=en&nrm=iso>. access on 16 Nov. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2003000500031.
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